ATA DA VIGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA
SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 08.08.1991.
Aos oito dias do mês de
agosto do ano de mil novecentos e noventa e um, reuniu-se, na Sala de Sessões
do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima
Quarta Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima
Legislatura, destinada a assinalar as explosões das Bombas Atômicas de
Hiroschima e Nagasaki. Às dezessete horas e dezesseis minutos, constatada a
existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e
solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e
personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Antonio Hohlfeldt,
Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhor Anildo Bristoti,
representando a Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Senhor Celso
Marques, Presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural;
Vereadores Ervino Besson e Gert Schinke, este proponente da Sessão e, na
ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente registrou
correspondência recebida pela Casa, acerca da solenidade, do Deputado Estadual
Valdir Fraga. Em continuidade, concedeu a palavra ao vereador Gert Schinke que,
em nome da Casa, salientou a importância do constante debate do episódio
ocorrido há quarenta e seis anos, no Japão. Declarou que as explosões atômicas
durante a Segunda Guerra Mundial levaram à conscientização da humanidade de seu
poder de auto-destruição, analisando a visão das grandes potências e dos grupos
pacifistas e ecológicos quanto à problemática nuclear. Registrou a realização,
às dezoito horas, na Casa, de ato em prol da reforma agrária no País, falando
das prioridades da linha política hoje seguida pelo Governo Brasileiro. Após, o
Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Anildo Bristoti, que discorreu
acerca das explosões das bombas atômicas em Hiroschima e Nagasaki, relatando
experiências vividas, na década de setenta, nos Estados Unidos, em manifestações
e debates políticos com a juventude daquele País. Analisou o problema
energético enfrentado pela sociedade atual e as soluções que vem sendo buscadas
para a questão. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao
Senhor Celso Marques, que atentou para as conseqüências das explosões atômicas
em Hiroschima e Nagasaki, comentando os diversos aspectos envolvidos na questão
nuclear e questionando os motivos pelos quais a data de hoje não vem recebendo
a devida atenção da imprensa. Ainda, teceu comentários sobre a sociedade atual,
com relação à ecologia, em especial em seu aspecto energético. Após, o Senhor
Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar,
declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e quinze minutos, convocando
os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os
trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Ervino Besson,
este nos termos do artigo 11, § 3º do Regimento Interno, e secretariados pelo
Vereador Gert Schinke, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Gert Schinke, Secretário
“ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em
avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE
(Antonio Hohlfeldt): Damos por abertos os trabalhos desta Sessão Solene que se destina a
relembrar o triste episódio da explosão da bomba atômica nas cidades japonesas
de Hiroshima e Nagasaki. Antes de entrar propriamente no ato, dando as
boas-vindas a todos, queremos salientar que a Câmara de Vereadores, como parte
do poder político da Cidade, junto com a Prefeitura, o Executivo, desenvolve
uma série de atividades. Pela manhã, temos uma série de reuniões das comissões
que analisam problemas da Cidade, depois, à tarde, temos a Sessão propriamente
dita, que hoje foi mais curta, aproximadamente 1h30min, depois tivemos a
reunião das Comissões Permanentes – a Casa tem 6 Comissões Permanentes que
cuidam dos problemas por temas. Uma das Comissões é, exatamente, a Comissão de
Saúde e Meio Ambiente que se preocupa com assuntos como a questão da ecologia,
a preservação da vida, etc... Agora estamos iniciando esta Sessão Solene e à
noite teremos outras atividades na Casa. Amanhã pela manhã haverá uma Sessão
com votação de projetos, logo depois, à tarde, inicia um seminário sobre a Lei
de Diretrizes e Bases sobre a questão da educação no Brasil. Então, a Câmara
tem permanentemente as mais variadas atividades. Normalmente, numa Sessão,
essas cadeiras daqui da frente do Plenário são usadas somente pelos Vereadores,
mas numa Sessão Solene costumamos liberar também essas cadeiras para os nossos
convidados e vocês, hoje, são os nossos convidados. Normalmente o orador vai
falar da tribuna, na Sessão propriamente dita. Então, teremos hoje uma atividade
que vai se dividir em duas partes: a Sessão formal, com discurso do Vereador
Gert Schinke e dos nossos convidados das entidades ecológicas, depois vamos
encerrar essa Sessão e passar para uma segunda atividade, que é o debate, a
projeção do vídeo que está na programação. Depois desta Sessão, quem quiser
conversar um pouco sobre as atividades da Câmara, saber algum detalhe,
estaremos à disposição.
A Sessão Solene de hoje, como já disse, foi requerida para assinalar e
lembrar o episódio da explosão das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki,
tendo sido requerida pelo Ver. Gert Schinke através do Processo 0982, aprovada
pelo Plenário da Casa. A Mesa dos trabalhos está composta, no momento, além da
Presidência da Casa, pelo companheiro Celso Marques, Presidente da Agapan, o
Profº Arnildo Bristoti, representando a Universidade Federal do Rio Grande do
Sul e pelo próprio Ver. Gert Schinke. Iniciando os trabalhos nós queremos
registrar o fonograma do Dep. Valdir Fraga, que é Presidente da Comissão de Finanças
e Planejamento da Assembléia Legislativa, que lamenta não poder estar aqui,
neste momento, porque já tinha atividades marcadas.
Neste momento, convido o Ver. Gert Schinke a fazer uso da tribuna, em
nome de todas as Bancadas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
O SR. GERT SCHINKE: Sr. Presidente; companheiro de
Mesa Profº Arnildo Bristoti; companheiro Celso Marques, aqui representando a
Agapan e, por assim dizer, o movimento ecológico da nossa Cidade; companheiros
e companheiras aqui presentes.
Para nós é uma honra contar com a presença de vocês, porque sempre nós
pensamos em fazer desses momentos formais, que são as Sessões Solenes, em
transmissão de conhecimentos e de questões que também dizem respeito a vocês, à
nossa cidadania. É mais do que necessário que as pessoas tenham o domínio e,
para isso, elas têm que ter o conhecimento, as informações necessárias, para
poderem intervir, para poderem entender as decisões que se dão em nível de
Governo e, principalmente, Governo Federal, e as relações internacionais também
dizem respeito a essa problemática nuclear. Eu quero registrar que nós
convidamos, a exemplo do que aconteceu no ano passado, o cônsul japonês para se
fazer presente nesta Sessão Solene, por se tratar de um episódio que aconteceu
no Japão, há 46 anos, mas este ano houve uma troca de orientação política em
relação às atividades relacionadas à tragédia de Hiroshima e Nagasaki e, sendo
assim, o consulado nos comunicou que não ia fazer-se representar. Para nós é
uma pena, porque nós, ao contrário, entendemos que é necessário sempre se
registrar a passagem de uma questão tão importante, além do que nós, como já
adiantei, sempre procuramos transformar estas atividades, numa atividade além
dos discursos que não são tão importantes, mas uma palestra e apresentação de
um vídeo, que logo mais teremos, para que vocês possam aprender um pouco sobre
a problemática da energia nuclear, e não apenas ficarmos aqui lamuriando um
desastre, uma tragédia, que aconteceu há 46 anos atrás. Se fosse por isto não o
faríamos.
Esta na verdade é a motivação que nos leva a fazer já pela terceira vez
esse tipo de atividade aqui na Câmara.
Dito isto queria registrar algumas questões relacionadas ao lançamento
das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. E de início dizer que em todo o
mundo o movimento pacifista internacional, o movimento antinuclear que congrega
dezenas de milhares de entidades civis organizadas, seja de direitos humanos,
seja de entidades que lutam pela paz, seja de entidades ecológicas, ou aquelas
mesmas atinentes às próprias questões da explosão das bombas. No caso, as
entidades japonesas envolvidas fazem manifestações em todo o mundo nestas
semanas em que ocorreu há 46 anos atrás as explosões destas bombas atômicas. A
imprensa noticiou que, há dias atrás, dia 6, na cidade de Hiroshima, se fez uma
grande manifestação com a presença de aproximadamente 60 mil pessoas, e mais
uma vez registraram para o mundo o que foi aquela tragédia, do lançamento das
bombas atômicas. E que inaugurou a era do emprego da energia nuclear na guerra.
A partir deste momento a humanidade tem a consciência da possibilidade
da sua autodestruição. Este registro é importante porque hoje os arsenais
nucleares acumulam uma capacidade de destruição do planeta várias vezes, dizem
uns teóricos que em torno de 80 vezes, outros já acham que em torno de 100
vezes e dizem que é até um ganho com os recentes acordos que se fez na área
nuclear entre o Presidente Bush e Gorbachev, da redução de 10% dos arsenais
nucleares, que isso representa grande coisa, até eu quero deixar aqui
registrado que, no nosso ponto de vista, estes acordos não passam de atitudes
de mera hipocrisia na diplomacia internacional para mostrar ao mundo, à opinião
pública, de que hoje existe um clima de distensão, de paz no planeta e que não
confere com a realidade, porque há 7 meses atrás ainda estávamos em plena
guerra com o Oriente Médio e com a possibilidade concreta de emprego de armas
nucleares que estavam lá estacionadas. E será que seria uma vantagem para a
humanidade reduzir a capacidade de destruição do planeta de 100 vezes para 80,
portanto ainda continuamos com a possibilidade de destruir 80 vezes o nosso
planeta? Que avanço é esse? Sem dúvida é um avanço, mas um avanço que nós temos
que relativizar e colocar dentro dos parâmetros das pessoas que não entendem a
guerra como a solução dos conflitos da humanidade. Todo esse arsenal nuclear e
esses acordos, inclusive, implicam em que parte desses complexos industriais
que produziram esses arsenais? Tem que se fazer alguma coisa com eles, o que é
um verdadeiro abacaxi para essas potencias nucleares. O que fazer com complexos
industriais que produzem mísseis nucleares? Se não vão mais empregá-los, se
chegou a um acordo de não produzir mais, ou então reduzi-los, ou até mesmo, vocês
devem ter assistido, já pela televisão, as imagens de explosões de mísseis
nucleares como forma de uma demonstração de boa vontade política entre as
grandes potências, então, se auto-controlam. É isso que nós, justamente,
chamamos de uma tremenda hipocrisia, porque enquanto se continuam mantendo
esses arsenais milhões de pessoas passam fome e no Brasil, que é um País pobre,
País do 3º mundo, já se empregou uma soma fantástica de dinheiro no
desenvolvimento de um acordo nuclear brasileiro estabelecido através do acordo
Brasil-Alemanha. E, hoje, soma a magnitude de aproximadamente dez milhões de
dólares e alega-se que não tem dinheiro para fazer a Reforma Agrária. Dentro de
alguns minutos vamos ter um ato pra registrar um ano do episódio do conflito
que houve na Praça da Matriz, porque os colonos estavam lá reivindicando a
reforma agrária. Mas pra isso não tem dinheiro no caixa. O Brasil gasta em
torno de um milhão de dólares de juros do custo financeiro para sustentar o
programa nuclear brasileiro. Isto foi divulgado para todo o Brasil e
internacionalmente em páginas e páginas de jornal, há meses atrás. E nós
estávamos estarrecidos dentro desta realidade. È impressionante! E para quê?
Bem, não quero, aqui, fazer um sermão, porque a realidade eu acho que
faz parte desta grande tragédia nacional que se vive, onde os investimentos
públicos estão completamente em desacordo com as reais necessidades do povo
brasileiro e que deveriam ser realmente as prioridades de investimento do
Governo Federal as áreas da saúde, da educação, etc.
E se vocês reclamam nas salas de aula for falta de giz, se os
professores protestam por falta de salário, liguem isto a uma outra realidade
que talvez a maioria de vocês está conhecendo agora pela primeira vez, que o
governo brasileiro gasta esta soma diariamente como custo financeiro para
sustentar o programa de metas, os acordos e que estão desenvolvendo as usinas
nucleares de Angra II e Angra III. É um custo muito elevado para o povo
brasileiro. Este custo está saindo para todos nós.
Mas quero falar um pouco de outras coisas relativas à problemática
nuclear. Não completamente nós criticamos o emprego da energia nuclear. Há
outras aplicações da energia nuclear que são importantes e nós consideramos
válidas, como por exemplo, aplicações industriais, é uma gama muito ampla de
possibilidade de emprego da energia nuclear nesta área, a possibilidade do uso
da radioatividade na medicina, na pesquisa científica, na agricultura. Então,
não é de todo que os ecologistas fazem uma crítica completa ao emprego da
energia nuclear. Nós criticamos o emprego da energia nuclear essencialmente em
duas áreas. Nós depois teremos a oportunidade e, principalmente o Professor
Bristoti, de se manifestar sobre isto, na área da energia, na produção de
energia e que tem impacto sobre o meio ambiente e sociedade, e na área bélica,
no desenvolvimento de armas nucleares. A situação, hoje, que se encontra o
emprego da energia nuclear para efeito de produção energética, se não me falha
a memória, gira em torno de 250 centrais nucleares em todo o mundo, das quais,
100 nos Estados Unidos. Os riscos, os custos financeiros, os impactos
ambientais decorrentes do lixo atômico, do lixo radioativo, dos rejeitos
nucleares e a impossibilidade do controle dessas políticas são os quatro
aspectos principais que levam o movimento ecológico, a nível internacional,
questionar o emprego da energia nuclear como forma de produção de energia.
Quando temos alternativas tecnológicas, muito mais apropriadas no sentido que
são apropriadas socialmente, ambientalmente e eticamente, e por quê? Vejam o
absurdo que se comete hoje em dia, e é uma coisa que diz respeito a nós,
juventude, que vive neste planeta: estamos produzindo, hoje, um lixo atômico
que vai existir durante milhões de anos, ou seja, todas as próximas gerações
vão ter que se encarregar de cuidar de parte desse lixo nuclear que está
servindo, nos beneficiando hoje, em que termos? A gente já viu que no Brasil
não beneficia nada, a nenhum de nós, e a que custo? Mas em outros países, para
sustentar o quê? A esbanjação de um consumo, de um estilo de vida consumista,
que rapina os recursos naturais, que esgota os recursos, que cria os problemas,
como nós estamos assistindo hoje, dos furos da camada de ozônio, o efeito
estufa, o esgotamento dos recursos naturais na Terra, e aí se coloca também
essa questão ética que nos deve levar a pensar se o emprego desse tipo de
tecnologia é válido afinal. Nós temos certeza de que não é válido,
especialmente aos países pobres. Nós assistimos aqui, no Brasil, além da
tentativa de construir as centrais nucleares Angra I, II e III, o governo
brasileiro também persegue o projeto de construção do submarino nuclear, que é
uma arma, em última análise, embora o equipamento não seja a arma, e que nós
contestamos veemente. Então, é necessário deixar claramente registrado aqui que
nós podemos prescindir da energia nuclear; a humanidade pode prescindir do uso
da energia nuclear para finalidade energética e bélica. Só estão interessados
em propagar esse tipo de política que visa construir armas atômicas, submarinos
nucleares, centrais nucleares, aqueles setores que se beneficiam
financeiramente e politicamente. O paradigma que o Movimento Ecológico propõe é
a reversão dessa realidade, inclusive nós temos uma proposta concreta de
conversão dessas usinas nucleares que hoje estão ainda em construção no Brasil,
Angra II e Angra III, em usinas térmicas, à base de carvão, cuja estrutura
poderia ser facilmente convertida e utilizada uma outra matriz energética que
não a nuclear. Existe, inclusive, uma experiência nesse sentido, se não me
engano na Itália e na França, de conversação de uma central nuclear para uma
central termoelétrica, funcionando à base de carvão. Em última análise, coloco
a necessidade de consumirmos menos energia e, para isso, todos temos um papel a
cumprir. Cada vez que vocês entram dentro de um automóvel, de um ônibus,
convido vocês a refletirem sobre a questão que está por trás dessa tecnologia
que vocês usam. Todo o transporte que nos movimenta, e que movimenta as
mercadorias, praticamente todo ele vem do petróleo, no Brasil, que garante a
nossa sobrevivência nas grandes cidades. Somos totalmente dependentes desse
petróleo. Mas nas nossas locomoções dentro das cidades podemos ser cada vez
menos dependentes desse petróleo, basta que se pense em alternativas
tecnológicas mais apropriadas para a nossa vida e para o meio ambiente, como,
por exemplo, o uso das bicicletas dentro das cidades. É por isso que ostentamos
esses bottons que fazem a campanha das ciclovias já. Fizemos dessa
bandeira uma campanha permanente porque embora alguns de vocês possam estar
espantados que isso tenha a ver com a energia nuclear, o que liga isso à
problemática nuclear é o emprego de energia, é a necessidade do consumo
energético e isso que temos que diminuir, porque senão vamos acabar esgotando
os recursos que hoje existem e vamos acabar contaminando de tal maneira o nosso
planeta, o nosso ambiente, que vai tornar-se insuportável às futuras gerações.
Talvez não para nós, imediatamente. Isso não é um problema que diz respeito
diretamente a nós, aqui em Porto Alegre com mais clareza, porque não estamos
sentindo isso, embora depois vamos ver como isso também nos diz respeito. Temos
legislação que trata disso, inclusive aprovada por esta Câmara e que diz
respeito aos rejeitos radioativos que existem aqui em Porto Alegre, e não são
poucos, volta e meia se descobre um meio perdido, como recentemente lá no cais
do porto se descobriu aquele equipamento com o Césio 137, que está lá há 16 ou
17 anos. Então, isso diz respeito à nossa realidade, mas existem muitas pessoas
que hoje estão sofrendo as conseqüências diretas da radiação, não só pelo
emprego das armas nucleares como também pela contaminação radioativa decorrente
do emprego da energia nuclear nos países europeus, nos países que empregam
largamente essa tecnologia. Então, esse é um problema que diz respeito a todos
nós. Com isso, quero encerrar, agradecendo a presença de vocês, fazendo votos
de que aprendam um pouco com as explanações que vêm a seguir, com o vídeo que
virá a seguir e fazer um convite para que vocês sempre estejam presentes aqui,
não só nas solenidades como esta, mas também para as votações e outros tipos de
atividades que dizem respeito diretamente a vocês como cidadãos de Porto Alegre.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Arnildo Bristoti.
O SR. ARNILDO
BRISTOTI: Boa tarde a todos. É um grande prazer falar a uma
platéia tão jovem, nesse momento de recordação que aconteceu em Hiroshima. E
nós tivemos, vou relatar rapidamente, uma experiência vivida por nós, não na
energia nuclear, mas no país que largou a bomba. Houve um movimento que nos
obrigou a ficar cinco anos fora do Brasil, um movimento militar. Então,
aproveitamos este tempo para fazer mestrado e doutorado nos Estados Unidos. Era
o final da década de 60, início da década de 70, surgia um movimento ecológico.
Assisti, pela primeira vez, ao primeiro Dia da Terra. Havia muita contestação
sobre o Terceiro Mundo, porque o Terceiro Mundo deveria ter uma nova proposta
de vida, estava tudo muito polarizado, havia a juventude hippie,
questionando o que chamavam establichment que era o status quo e
como nós éramos estudantes de pós-graduação, éramos convidados a participar de
debates com a comunidade e, por diversas vezes, nós tivemos que ouvir a palavra
“devassos”, que é uma espécie de agressão, nos acusavam assim:
“O que vocês fazem com o nosso
dinheiro? Com o que damos de auxílio lá para o Terceiro Mundo, vocês ficam
alimentando militares corruptos?” Então, eu respondia, quem foi que colocou
aqueles militares lá? Vocês não sabem? Olha, vocês ignoram tanto que quando
pergunto quais são os países que vocês mais temem no mundo, onde está o perigo,
respondem o perigo, o mal está na Cortina de Ferro, no outro lado do mundo. Mas
eu digo a vocês que eu não queria ser um russo, um polonês nos dias de hoje,
vendo um país armado até os dentes e tendo o estigma de ser o único país do
mundo que largou duas bombas atômicas. Não imaginam a tristeza que via nos
olhos deles, parecia que eu estava fazendo uma acusação irresponsável. O que
falta é ter consciência de um mundo maior. O mundo não é só os Estados Unidos.
A história do Planeta não é só contada pelos vitoriosos, mas por aqueles
vencidos que foram esmagados. O mal está é no medo que eles provocam na
humanidade. Depois eu me sentia mal, por quê? Porque era uma sociedade
alienada.
Como nós nos dias de hoje temos
que cuidar, porque as duas gerações que nos antecederam foram castradas
intelectualmente para discutir estes problemas da sociedade, do meio ambiente.
Agora vocês têm que recuperar o tempo perdido. E para recuperá-lo requer um
esforço muito grande. E não é fácil nos dias de hoje passar por esta transição.
Nenhum de vocês tem dúvidas que estamos vivendo o fim de uma sociedade e
assistindo ao nascimento de outra. A sociedade do petróleo está morrendo. A
energia nuclear entra em alguns casos, no meio, como uma proposta alternativa.
E isto nos preocupa muito. Porque a grande preocupação nos dias de hoje
chama-se poluição atmosférica resultante do uso dos combustíveis fósseis,
particularmente os derivados do petróleo. Onde se dá o grande consumo? Nas
grandes cidades, metrópoles e megalópoles. E aí está o grande desperdício. A
Sociedade anterior entregou para vocês um monstrengo que se chama cidade
irracional, cidade imbecil, a cidade que não pensa no seu futuro, só pensa no
seu dia-a-dia. E agora temos o efeito estufa, o planeta está aquecendo. E vêm
os pregadores da energia nuclear. Vocês sabem que a energia nuclear não gera CO2.
A energia nuclear é a matéria que se transforma em energia. E aí aparecem
muitas revistas do mundo dizendo: a saída para a energia limpa é a energia
nuclear, está certo, ela não gera CO2, então, onde é que está o
problema? O problema está no que o Vereador acabou de se referir, no
desperdício irresponsável, principalmente, nas grandes cidades, se não
mudarmos, não partirmos para uma nova proposta social, lamento dizer, a grande
cidade, a médio e longo prazo, só tem um futuro energético, chama-se energia
nuclear, e aí não vão chamar urânio de energia maldita, maldita é a nossa
escolha, o urânio fica quieto lá no solo como qual quer recurso natural. Então,
a conscientização nos dias de hoje é pensarmos em novas fontes de energia, o
uso racional da energia, sou um pouco radical, se tu desperdiças energia não te
chama de ecologista. Na melhor das hipóteses é um ecologista de apartamento que
não entende nada de natureza, um ser artificial totalmente vulnerável aos
colapsos no abastecimento de alimentos, energia, transporte, etc. Então, isso
requer uma mudança muito grande na nossa mentalidade. Dentro do projeto que vou
referir depois, Porto Alegre Ano 2000, estamos fazendo uma proposta para as
escolas de Porto alegre não ensinaram somente ecologia. Ensinar ecologia sem
tratar da energia é tratar do doente e não da doença. Desculpem o radicalismo,
eu aceito o debate, porque 80% dos danos ambientais são causados diretamente
pelo uso da energia, e outros 20% pelos indiretos. Então, não associar energia
com ecologia, é tratar do doente e não da doença. Isso requer muito estudo, uma
mudança de mentalidade muito grande, não só de vocês, como dos professores,
exijam isso, exijam preparo, está na física, na química, na biologia básica o entendimento
dessas coisas, e só com um esforço bastante grande vamos partir para uma
proposta social, diferente da de hoje, uma nova proposta, que a gente possa
descartar a energia nuclear como alternativa. Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE
(Ervino Besson): Concedemos a palavra ao Sr. Celso Marques,
Presidente da Agapan.
O SR. CELSO MARQUES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e demais presentes, companheiro Arnildo
Bertotti, estudantes, é uma satisfação ter a oportunidade de falar, já os que
me antecederam colocaram uma série de questões fundamentais e eu gostaria de
fazer uma reflexão em voz alta a vocês. Começando pelo Plenário de hoje, vocês
estão dentro de uma Casa do Povo; vocês estão sentados nos lugares onde
deveriam estar sentados os Vereadores que foram eleitos para defender os
interesses do povo de Porto Alegre. Agora, se vocês forem freqüentar diversas
Sessões dessa Casa, vocês vão ver que os Vereadores não aparecem nas Sessões, a
não ser alguns que se caracterizam pelo seu elevado sentido público, pelo seu
civismo, pela sua seriedade, uma boa parte dos Vereadores não comparecem. Já
vim diversas Sessões onde infelizmente existem pouquíssimos Vereadores e as
cadeiras, às vezes, totalmente vazias e nós falamos quase que para nós mesmos.
Isso caracteriza o quê? Caracteriza um estado de uma espécie de alienação
porque, por definição, tudo o que acontece dentro de uma Casa Legislativa como
a Câmara Municipal, por definição, só acontecem coisas aqui dentro desta Casa
que tem um sentido importante para a nossa coletividade e se hoje nós vemos
essa ausência, num dia de uma importância tão grande para todos nós e para toda
a humanidade como o dia 8 de agosto, o dia onde pela primeira vez uma cidade
foi objeto de um bombardeio atômico, onde morreram mais de 200 mil pessoas, não
sabe ao certo quantas pessoas morreram naquele primeiro dia daquele primeiro
bombardeio. Até hoje morrem cerca de 2 mil pessoas por ano que são os
sobreviventes de Hiroshima que adquiriram as mais diversas doenças provocadas
pela radioatividade. Numa data tão importante como esta era de se esperar que
as pessoas que são responsáveis pela elaboração das leis da nossa Cidade
estivessem aqui, ouvindo um pouco, participando um pouco, refletindo um pouco,
partilhando um pouco, as preocupações que os ecologistas, que os físicos e que
alguns políticos têm com a questão nuclear que é uma questão extremamente
importante para a sobrevivência da nossa humanidade, para a sobrevivência da
vida neste Planeta.
A questão nuclear, quando
começamos a pensar o que representa, descobrimos que é um nó de relações muito
importantes que englobam uma enorme multiplicidade de problemas. Quando
pensamos na questão nuclear se colocam os problemas mais variados que toda a
coletividade, todas as escolas e todos os parlamentos, todos os meios de
comunicações deveriam informar constantemente ao público. Por exemplo: na
“Zero-Hora” de hoje eu fiz uma leitura - e me corrijam se eu tiver cochilado -
mas não vi nenhuma referência na “Zero-Hora” de hoje no que diz respeito à
questão do bombardeio de Hiroshima. O que será que está acontecendo? Porquê
esta data não está sendo lembrada?
Então, quando pensamos na questão
nuclear, enfrentamos um tipo de problema que desafia, inclusive, a nossa forma
habitual de pensar , desafia os métodos de ensino que recebemos nas nossas
escolas, porque, infelizmente, uma boa parte do que aprendemos hoje nas nossas
escolas, talvez a maior parte do que aprendemos são conhecimentos dissociados,
são conhecimentos fragmentários que não permitem que nós a menos compreendamos
um pouco o mundo em que vivemos.
É problema da especialização, o
professor de Química, só fala em química; o professor de Biologia, só fala em
biologia; o professor de Português, só fala em redação; o professor de
Matemática , só pensa em matemática e o professor de Educação Física, só pensa
em educação física e juntando todos esses pedaços, não se forma um todo, se
forma um conjunto de coisas ajuntadas, de conteúdos que não se cruzam, que não
se ligam uns com os outros. Esse é um dos grandes problemas da nossa época, o
problema do tipo de educação que nós temos, uma educação bitolada. Nós
recebemos, hoje, uma educação que infelizmente não corresponde às necessidades
do mundo em que vivemos, porque essa educação não nos permite compreender os
problemas do nosso mundo, exatamente pela falta dessa visão integradora. E
todos nós nos ressentimos disso. Certamente, se as pessoas tivessem uma
consciência maior da gravidade dos problemas que enfrentamos hoje elas teriam atitudes
completamente diferentes em relação à própria vida. A questão nuclear, para
exemplificar, se coloca nos mais variados problemas. Já foi anteriormente
mencionado aqui o problema do nosso estilo de vida. Tudo que nós estamos
constantemente fazendo tem implicações sobre o meio ambiente. Se nós estamos
comendo uma salada ou um bife esse alimento tem uma energia e essa energia vem
da natureza. Depois que nós comemos, quando formos no banheiro aquilo também
vai ter uma destinação, provavelmente no Guaíba. Então, estamos sempre com um
conjunto de relações , nós temos um fluxo de energia que nos mantém. Nós
estamos aqui numa sala iluminada e para iluminar esta sala nós precisamos de
uma central geradora de eletricidade. Nós não podemos mais continuar a aumentar
o nosso consumo de energia constantemente, liberando para a atmosfera C02,
que vai gerar o efeito estufa. Nós temos que repensar toda nossa maneira de
viver. Nós temos que voltar a pensar na questão da energia de uma forma
completamente diferente. Só para colocar uma questão: vocês sabiam que um
automóvel, digamos um fusca, a cada 100 quilômetros que ele percorre queima de
oxigênio o que uma pessoa queima num ano respirando? Vocês devem ter estudado
que a nossa respiração é uma combustão, queima oxigênio. Agora, imaginem os
milhões de automóveis que hoje existem no mundo os efeitos que estão causando!
Porto Alegre é uma cidade que tem mais de 400 mil automóveis, então, imaginem
que estupidez, nós estamos respirando a poluição produzida por esses automóveis
e ônibus. Então, temos que repensar tudo, temos que repensar muito a nossa
forma de viver, a forma de nos relacionarmos com a natureza, a forma de nos
relacionarmos uns com os outros. Há um grande pensador atual, Ivan Ilich, que
acha que estamos vivendo numa sociedade que precisa acabar com as escolas; ele
escreveu um livro chamado “Sociedade sem escolas”. A tese desse escritor é que
as escolas, hoje, servem não para ilustrar as pessoas, mas para bitolá-las,
para que elas aceitem a sociedade em que vivemos e achar que esse hospício em
que vivemos hoje deve continuar a progredir e a evoluir cada vez mais.
Imaginem, por exemplo, que vivemos numa civilização que hoje tem a capacidade
de destruir o planeta inteiro cerca de cem vezes. Há , inclusive, uma medida
que os estrategistas militares criaram, que representa a destruição total do
inimigo e que se chama over-kill, algums traduzem por capacidade de
retaliação completa. Os Estados Unidos possuem 50 over-kill e a União
Soviética outros 50, ou seja, juntando, cada um pode destruir o outro cerca de
100 vezes. Hoje, vivemos uma civilização que na opinião de muitas pessoas que
me ouvem criou uma vida que, aparentemente, é normal mas que para muitas
pessoas, para muitas culturas, nós vivemos uma civilização que perdeu o sentido
da realidade, ou seja, uma civilização que enlouqueceu. Se vocês pensarem
existe uma boa bibliografia de livros sobre a questão nuclear, se vocês
procurarem se informar verão como a questão nuclear envolve uma profunda
reflexão sobre a nossa cultura, sobre a civilização, sobre o tipo de ciência,
sobre o tipo de tecnologia que a nossa civilização criou. Porque, por exemplo,
os chineses que há milênios têm uma civilização extremamente avançada, porque
os indianos que têm uma civilização também milenar, porque os próprios
japoneses não desenvolveram uma ciência, uma tecnologia tão agressiva? Será que
era porque eram burros, será que eles eram incapazes intelectualmente ou será
que era porque eles tinham uma outra visão do sentido da existência do homem no
planeta que difere completamente da nossa visão. Os ecologistas gostam muito
dos índios, porque os índios têm uma forma de pensar, que parece a forma mais
evoluída, nós normalmente consideramos que a nossa civilização progrediu muito,
desenvolveu muito, que somos muito melhores do que os índios e de outros povos
primitivos, mas quando a gente começa a pensar e a ouvir o que os índios falam
a respeito da nossa civilização, a gente vai chegando à conclusão de que eles
têm uma sabedoria muito grande na forma de vida que eles escolheram, tão grande
que o escritor brasileiro Oswald de Andrade escreveu que antes de os
portugueses terem descoberto o Brasil os índios tinham descoberto a felicidade.
Nós vivemos numa civilização tecnológica extremamente complexa, mas será que nós não estamos simplesmente o progresso consiste na tentativa de fazer remendos constantes de uma tecnologia que é extremamente imperfeita, nociva e perniciosa. Estes dias eu li uma declaração de um dos grandes líderes indígena brasileiro, Ailton Frenac, e ele dizia assim: “Nós fazemos o míssel e depois consideramos que quando se consegue fazer o antimíssel se faz um grande progresso. Mas não seria melhor que não se estivesse construído o míssel para não se precisar do antimíssel?”
A questão da AIDS, por exemplo, é
uma doença que está dizimando grande quantidade de pessoas e que talvez não
tenha cura. E muitos dizem que a AIDS é um vírus que escapou de um laboratório.
E que hoje não existe forma de controlar esta doença, porque a natureza não
produziu os meios para controlar. Têm-se grandes esperanças que a energia
genética e a biotecnologia venham um dia a curar a AIDS e se curar a AIDS as
pessoas vão achar que é um grande progresso. Assim se chegarmos à cura de
câncer muitas pessoas vão achar que é um grande progresso. E sem sombra de
dúvida será um progresso. Mas o câncer foi produzido por uma enormidade de
mudanças ambientais que produzimos e introduzimos da forma mais irresponsável,
mais demente, que introduzimos na natureza.
Então, quando começamos a pensar
o problema da energia vemos o problema militar, de toda uma forma de produção
voltada para o desperdício. Vemos uma ciência, uma tecnologia que tem um
enfoque gerado por um conjunto de valores que a nossa cultura produziu, que não
são valores universais. Tem outras culturas que acharam que o objetivo da vida
do homem é a dominação da natureza.
Então, temos que pensar bem na
questão da dominação da natureza, nesta forma de dominação da natureza.
Têm
diversos índios que tem se pronunciado, dizem que o homem branco é louco. Mas,
por que ele é louco? Porque ele pensa que pode vir a dominar a natureza. Mas
ele é parte da natureza, ele não tem a possibilidade de se colocar do lado de
fora da natureza e fazer da natureza um objeto de dominação. Quando ele mexe
com a natureza está recebendo os
efeitos das ações sobre ele mesmo.
A questão nuclear é muito importante, porque até o advento
da bomba atômica tínhamos um grande otimismo de que a tecnologia sempre seria
usada para o benefício da humanidade, que toda a tecnologia era intrinsecamente
boa, representava um progresso. Mas no momento que explodiu a primeira bomba
atômica foi um momento de grande comoção para toda a humanidade, e não apenas
para ela, mas para aquele pequeno grupo de cientistas que criou esse artefato,
e que permitiu que ele fosse usado. Vocês sabem que Hiroshima era uma cidade
que não tinha sofrido nenhum bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial, ela
foi escolhida para ser alvo para se poder medir, cientificamente, os efeitos de
um impacto de uma bomba sobre uma cidade que não tinha sofrido ainda nenhum
bombardeio. Imaginem a crueldade que representou esse ato, e temos no Brasil,
hoje, um empenho para a corrida nuclear, até passei para o professor um
documento produzido pela Sociedade Brasileira de Física, um ano atrás, no qual
se coloca que o Brasil já tem condições para a produção de bombas atômicas, e o
Brasil está empenhado num projeto de construção de submarinos nucleares, e na
construção de uma bomba nuclear. Em uma semana ter uma bomba pronta, isso feito
à revelia da sociedade brasileira, dos cientistas, dos nossos políticos, enfim,
feito por um grupo de militares. Entramos num programa nuclear, mencionado pelo
Gert, que hoje representa uma das maiores parcelas da nossa dívida externa,
enfim, quando começamos a pensar sobre essa questão, sobre os mais variados
ângulos, sobre a impossibilidade de separar a energia nuclear dos seus usos
pacíficos dos usos bélicos, porque os reatores nucleares que são usados para a
produção de eletricidade, muitos tipos desses reatores, produzem o plutônio,
que foi a substância da segunda bomba lançada sobre Hiroshima. Então, a
indústria nuclear se desenvolveu com a fachada de ser uma tecnologia para a
geração de eletricidade, mas que na realidade esteve sempre associada a fins
militares. Não se pode separar a geração de eletricidade dos programas
nucleares; uma das coisas mais fantásticas é o problema do lixo nuclear, o lixo
nuclear é um problema que não tem solução técnica. Não há possibilidade de
desativar o lixo nuclear. Assim nós temos, por exemplo, a meia vida do
plutônio, está em torno de 24 mil anos, ou seja, nós temos o plutônio, ele fica
em atividade durante quase 500 mil anos. Então nós temos uma substância
extremamente perigosa, certamente a substância mais perigosa que existe que tem
que ficar sobre o controle durante um período de tempo que não tem precedente
em termos de história humana. São desafios que estão aí. Até 1983 as principais
potências nucleares, principalmente na Europa, Inglaterra, Holanda, estavam
lançando no mar os tambores de lixo radioativo. Quem levantou essa questão e
fez uma grande campanha internacional que culminou com a parada do lançamento
de lixo radioativo no oceano foi o Green Peace que vocês todos devem
conhecer, aquele movimento, aquela organização ambientalista internacional.
Então, vocês vejam, quando nós pensamos nos problemas nucleares, por exemplo,
nós tivemos a questão de 2 anos atrás, um acidente nuclear de proporções muito
grandes que foi o problema do césio 137 em Goiânia. Uma semana depois de o
Governo brasileiro ter afirmado aos quatro ventos do mundo que já tinha
capacidade tecnológica para a produção de uma bomba atômica, algumas pessoas
num bairro paupérrimo de Goiânia que viviam do lixo e no lixo, quebraram a
marretadas um equipamento radiológico de um hospital que estava abandonado e
tiraram de dentro uma cápsula que brilhava intensamente, uma luz azulada ou
azul-esverdeada. Aquilo, à noite, eles ficaram maravilhados com aquela luz,
passaram inclusive em partes do corpo aquela substância iridescente e nós
tivemos um processo de contaminação radioativa que foi considerado o acidente
nuclear, talvez o mais grave depois da explosão de Chernobyl. Foram apenas 19
gramas de césio 137 que provocaram uma tragédia no Brasil de proporções
fantásticas, porque até hoje não se sabe quantas pessoas estão morrendo em
Goiânia por doenças radioativas, de origem radioativa. Enquanto isso o Governo
brasileiro, através da Comissão Nacional de Energia Nuclear, mostrava a sua
total inoperância, a sua total falta de equipamentos para controlar uma
situação como aquela. O Governo brasileiro, até hoje, continua, nós estivemos
essa semana uma denúncia do problema de depósito radioativo em São Paulo, ai os
representantes da NOCLEN e da QUINEN, dizem que não há problema nenhum, que
aquela radioatividade está em níveis normais. Essa é uma das maiores mentiras
que vêm sendo apregoadas até hoje sobre a questão nuclear. Não existe
radioatividade que não seja perigosa! Se você vai tirar uma chapa de Raio-X,
você está correndo o risco de um câncer. Então, não existe essas coisas que os
nucleocratas diziam: se você encostar-se nesta parede... Isto não oferece
perigo nenhum, porque aqui vai emitir menos radiação do que a irradiação que
uma usina nuclear vai liberar no seu funcionamento normal para o meio ambiente.
Nós temos, na história da questão nuclear, os diversos fatos
que constituem a história do problema nuclear. Faz com que realmente se pense,
como falou uma vez um ecologista francês chamado Edgar Morin, todos sabemos que
os zoólogos classificam o homem porque o homem é a chamada espécie
homo-sapiens, sapiens em latim quer dizer aquele que sabe. Mas Edgar Morin, uma
vez disse o seguinte: será que somos homo-sapiens ou será que somos
homo-demens, quer dizer demente. Eu acho que hoje, dia oito de agosto, é o
momento, e que todos os anos se renova para pensarmos: será que somos sapiens
ou será que estamos ficando loucos, talvez sem o saber. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): queremos agradecer a
presença de todos os convidados, registrando, ainda, a presença do Ver. Ervino
Besson. Encerramos formalmente esta Sessão Solene e passamos o comando dos
trabalhos ao Ver. Gert Schinke para a segunda parte dos trabalhos, onde teremos
projeção de slides e debates.
Estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se
a Sessão às 18h15min.)
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